Pablo Bucciarelli, Adventure Camp 2011, São Luiz do Paraitinga

Pablo Bucciarelli, Adventure Camp 2011, São Luiz do Paraitinga

quinta-feira, 28 de junho de 2018

Brasil, o primeiro indígena candidato para salvar a floresta


A batalha de Leopardo Yawa Bane do povo Huni Kuin (gente verdadeira)
Tradução da página da Rádio Città Fujiko de Bologna, Italia por Alessia Benizzi e revisão de Pablo Bucciarelli

Por Alessandro Canella

Depois do fenômeno do desmatamento pela madeira, a Floresta Amazônica hoje é ameaçada também por parte das multinacionais farmacêuticas. O primeiro indígena pré-candidato para as eleições brasileiras pelo Estado de Santa Catarina é Leopardo Yawa Bane do povo Huni Kuin, grupo que vive na divisa entre Peru e Bolívia. Leopardo lutará ao lado de Marina Silva, senadora ambientalista. Nós o entrevistamos.

Na Floresta Amazônica noroeste do Brasil, mais especificamente no Estado do Acre, na divisa entre Bolívia e Peru, o povo Huni Kuin, uma etnia indígena muito antiga, vive em comunhão com a natureza. Na floresta eles constroem a sua casa, a suas tradições, os seus rituais ancestrais e da floresta trazem também o seu sustento, seja alimentar assim como medico.

Mesmo se no ocidente não está mais na moda, o tema do desmatamento da Amazônia é ainda uma pauta cotidiana, especialmente numa época na qual a mudança climática começa a produzir seus efeitos negativos.

Leopardo Yawa Bane é um indígena originário do povo Huni Kuin, que desde o ano de 1994 luta pela defesa da floresta, e viaja pelo mundo a fora para promover a sua própria causa e a do seu povo. Para poder concretizar ainda mais sua luta, ele decidiu se candidatar para as próximas eleições brasileiras, que serão realizadas depois das grandes dificuldades dos últimos anos para o país latino-americano. Desde o impeachment de Dilma Rousseff, ao que muitas pessoas chamaram de “golpe branco” que trouxe ao poder Michel Temer, chegando até a recente prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Bane será o primeiro pré-candidato indígena para o estado de Santa Catarina e ira bater-se junto com a Marina Silva, senadora ambientalista que no ano de 2014 chegou ao topo de sua popularidade, ao ponto de sair como vencedora no caso de um hipotético segundo turno com a então candidata Dilma Rousseff.

Aos nossos microfones, o indígena conta que o desmatamento da Amazônia, que continua mais uma vez para dar espaço às atividades de pecuária e agronegócio.

Quem ainda tem um papel de protagonista nessas dinâmicas são os latifundiários e as multinacionais, que, graças aos altos níveis de corrupção e máfia das instituições brasileiras, continuam agindo sem problemas legais.

A nova fronteira da exploração dos recursos da floresta chega, agora, por parte da medicina. As ervas medicinais presentes na floresta, que tem uma biodiversidade inacreditável, são muito procuradas pelas multinacionais farmacêuticas.

Já a Ayahuasca, o enteógeno feito com plantas da Amazônia, que desde séculos é patrimônio terapêutico dos indígenas amazônicos, esta sendo apropriado por parte das multinacionais farmacêuticas, que estão experimentando como antidepressivo.

Os Huni Kuin, então, devem enfrentar muitos inimigos para manter as suas terras e suas tradições, mas principalmente para continuar a viver em simbiose e preservar a floresta.
O projeto de Leopardo, então, prevê a possibilidade de reflorestamento do que, até então, foi desmatado, e sua descida no âmbito da politica contribui justamente em concretizar essa ação.

Para ler o artigo original e escutar a entrevista, acesse: http://www.radiocittafujiko.it/news/brasile-primo-indio-candidato-salvare-foresta-yawa-bane.

Errata: o primeiro e único indígena eleito deputado federal pela defesa da Floresta Amazônica na história da democracia brasileira foi Mario Juruna (1943-2002), entre os anos de 1983 e 1987, nascido na aldeia xavante Namakura no Estado do Mato Grosso.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

Mor†e Elbrus


A felicidade é estar com a natureza, ver a natureza e conversar com ela.
— Tolstói, em “Os Cossacos”



Vinte e oito de julho de 2014. Onze horas e cinquenta e dois minutos da manhã. Calor e dia ensolarado. Trinta e dois graus Celsius no termômetro. O helicóptero se aproximava. Silvosvindos do colo da montanha ecoavam por toda a encosta. Eu já não suportava mais a mescla dos efeitos negativos oriundos do contraste térmico, depois de uma noite de trinta graus abaixo de zero e naquele instante tendo que lidar com a boca seca. Ignorei os sinais do corpo e da mente, mas algo exigia atenção. Algo estranho acontecia. Eu ascendia rumo ao cume, caminhava a menos de vinte metros do topo, débil e lento. Estava por conta própria. Na mesma parede mais três alpinistas, todos da Bielorrússia, e um deles falando um inglês paupérrimo. No limite da minha vontade, resolvi perguntar:
– O que foi?
– Pediram para descer.
– Por quê?
– Não sabemos.
– Vou seguir.
Silêncio.
Cheguei ao cume, e minha visão estava turva. O dia era claro, mas a fadiga e o medo me enevoaram os sentidos. Calei!
Cheguei ao cume, mas não era como eu queria. Uma mulher, ou melhor, uma jovem deitada. Olhou-me. Eu parei. Olhei de novo, mas não entendia, depois entendi, mas não queria acreditar. Ela ainda aflita, me olhava com cara de culpa, mas eu não falei nada. Entendi tudo depois em segundos, o helicóptero, os silvos dos socorristas no colo da montanha, seu flagelo, minha dor, minha tristeza... Ao seu lado, o corpo vazio.
Espaço não havia para a celebração da conquista, que me era lícita, e que o terror da morte abafava. Chorei silenciosamente, por ter chegado ao cume em um território de todo desconhecido, em que depositei olhos de primeira vez, mas estava exaurido e sem tempo. Uma nova espera seria impossível, e não há espera possível para a morte. Os socorristas chegaram e me deram a ordem. Não hesitei, pois já era o limite do tempo para iniciar a descida. Olhei novamente a garota, tive compaixão, mas dei as costas e parti.
Em julho de 2014, depois de um breve planejamento, fui para a Rússia com vários projetos. O principal deles era o de realizar a viagem de trem pela maior ferrovia do mundo, a Transiberiana, com quase dez mil quilômetros de percurso. Também, queria aproveitar para subir uma montanha, de preferência alguma bem sedutora, levando na bagagem meu estilo de como fazer as coisas: leve, rápido e com espírito selvagem.
Chegando à São Petersburgo, aperfeiçoei meu roteiro, pois sou do tipo que gosta de seguir o fluxo e aproveitar as oportunidades ao longo da viagem. Já em Moscou, depois de oitocentos quilômetros de trem, fiz minhas últimas pesquisas para decidir os detalhes finais da aventura até as montanhas do Cáucaso, divisa da Rússia com a Geórgia e a Ucrânia. Cáucaso, em russo Кавказ (Kavkaz), é o nome dado a uma região da Europa oriental e da Ásia ocidental, entre o mar Negro e o mar Cáspio, que inclui a cordilheira de mesmo nome e as planícies adjacentes. Essa região marca uma das fronteiras entre a Europa e a Ásia, fazendo com que alguns de seus países sejam considerados transcontinentais, como a Turquia, cujos territórios dividem-se numa porção geograficamente europeia e noutra asiática. A região possui duas partes: uma ao norte e outra ao sul, respectivamente Ciscaucásia e Transcaucásia. Na minha cabeça uma semana seria suficiente para chegar até a base do Elbrus, me organizar, alugar equipamento, subir em ataque único e depois voltar para Terskol, antes de retomar minha rota Transiberiana. O Cáucaso foi um local de grande importância na literatura russa. Na cidade de Yasnaya Polyana, localizada duzentos quilômetros ao sul de Moscou, nasceu e cresceu Liev Tolstói. Lá também seu pai foi assassinado por um dos mujiques1. Esse acontecimento fez com que Tolstói começasse a sua incansável busca pelas razões que levam o ser humano ao seu limite. Os embates com a sociedade, suas castas, Deus, e então ele começou a escrever, e se tornou o ícone russo, predecessor de Dostoiévski e um dos gigantes da literatura mundial. A vivência de Tolstói no Cáucaso o inspirou no romance Os Cossacos (1863), que retrata a vida de camponeses numa área remota da região. O modo de vida campesino era uma das obsessões de Tolstói. Foi em Astapovo, no Cáucaso, cidade a aproximadamente trezentos quilômetros ao sul do Moscou, que Tolstói morreu, num vagão de terceira classe na estação de trem – não suportava mais ser reconhecido publicamente e preferia a companhia dos miseráveis, após renunciar ao estilo de vida aristocrata, se divorciar da mulher e resolver refugiar-se até o fim de seus dias, onde serviu como tenente nas Guerras do Cáucaso e Crimeia. Ele queria refletir solitário sobre o sentido da vida. Já tinha parado de fumar, beber e comer carne. Não conseguiu concluir a viagem, pois morreu de pneumonia na estação de Astapovo, aonde chegou a ser tratado como indigente.
Peguei um voo de Moscou a Nalchik, capital de Cabardino-Balcária, localizada a sudeste da cordilheira do Cáucaso. No avião, consultando a comissária de bordo, busquei informações sobre ônibus à Terskol, pequena cidade de onde sairia caminhando para a montanha. Realmente, o maior desafio na viagem pela Rússia foi o idioma. Poucos russos ou imigrantes de países vizinhos eram capazes de comunicar-se em inglês. Sem sucesso, a aeromoça tentou me ajudar, e me dando por vencido caminhava para sair da aeronave quando um dos passageiros veio em minha direção dizendo em inglês: “Boa sorte no Elbrus!”
– Você fala inglês?
– Um pouco.
– Sabe onde consigo um ônibus para Terskol?
– Espere. Vou ligar!
Uma conversa em russo e alguns minutos depois disse o amigo: “Você pode esperar por uma hora? Você vai de carona com meu tio. Ele tem um hotel e se você não tiver onde ficar, pode hospedar-se lá.”
Espantei-me com tudo aquilo, não esperava tamanha solicitude e energia daquela pessoa. Logo me orientou o caminho do carro que nos esperava e fui destemido. Senti uma atmosfera boa naquele homem, que logo começou a contar a história de sua vida. Dimytri disse que trabalhava em Moscou, mas estava ali para o funeral de sua avó. Seus tios já haviam feito as vezes na despedida e teriam que retornar à cidade natal, cerca de duas horas de furgão. Ao encontrar a família inteira me esperando, consolei-os pela perda da matriarca e os agradeci imensamente pela carona. Dimytri pediu que não me preocupasse com o idioma, pois seus tios já sabiam das minhas necessidades. Embora falassem apenas russo, tentei comunicar-me com algumas palavras que havia aprendido com a ajuda de novos amigos na passagem por Moscou. Também trocamos sinais e fomos compartilhando comida e vislumbrando a paisagem rumo ao Cáucaso. Meu semblante era de alívio com a ajuda, e agradecimento. Meu olhar estava fixo nas montanhas nevadas que se acercavam ao longo da rodovia. Sentia a brisa gelada no vale do rio Baskan que corria paralelo ao nosso veículo, e entre uma parada e outra, para dar passagem ao gado ou para o controle dos militares em serviço, seguíamos para o destino sonhado. Eu queria mais do que nunca fazer algo especial na minha viagem, de preferência nas montanhas, algum feito esportivo dentro do meu estilo. Escolhi a dedo a montanha mais alta da Europa, um dos Sete Cumes2, numa região de paisagem exótica com glaciares, flores de cores vivas e um rio caudaloso que corta o vale, o Elbrus (5642 msnm3), um estratovulcão extinto, nada mais do que o décimo monte de maior proeminência4 topográfica no mundo. Seu pico com neves eternas alimenta vinte e duas geleiras que, por sua vez, dão origem aos rios Baksan, Kuban e Malka. Já em Terskol, chegando ao hotel, senti-me um alienígena, pois ninguém falava outro idioma a não ser o russo. De repente, eis que vem um rapaz saltitante falando inglês na minha direção: “Espanhol?”
– Não. Sou brasileiro...
– Incrível, brasileiro... Seja bem vindo amigo. Diga quais são seus planos e assim posso te ajudar.
– Bem, vim subir o Elbrus e preciso de equipamentos, pois minha viagem é longa e não trouxe nada para escalar.
A alteridade se revela mais uma vez!
Artyom era guia de alta montanha e instrutor de snowboard de origem ucraniana. Logo nos tornamos próximos, muito em função dos meus planos. Depois conheci mais dois personagens de Terskol durante essa passagem meteórica pelo Cáucaso: Vladislav, compatriota de Artyom, e Dasha, de Pyatigorsk, norte do Cáucaso na Rússia. Fui tratado como amigo, em nenhum momento senti-me um estranho, hóspede do hotel ou um turista qualquer. Parti para a Seven Summits Club5, onde reuniam-se os alpinistas da região e aluguei os equipamentos necessários para meu plano. Claro que no primeiro momento fui questionado, não somente pelos novos anfitriões, mas também pelo pessoal do clube. Imaginem um brasileiro, desconhecido, que mal conseguia comunicar-se, que nunca havia estado ali antes, dizer que alugaria os equipamentos por apenas três dias, mas talvez voltasse antes, e que faria a escalada solo sem aclimatação. Considerando ainda que a maioria dos turistas vêm apenas para esquiar ou escalar utilizando o serviço de teleférico – diga-se de passagem, que prontamente recusei – tive que lidar com alguns olhares desconfiados que me desafiaram ainda mais, pois já sabia que a tarefa seria difícil. Primeiro, os meus próprios dilemas, agora incrementados por uma nova carga de responsabilidade. Recebi conselhos desencorajadores, especialmente direcionados aos males da altitude.
Interiormente telegrafei cada comentário como instrumento de motivação, mas senti que a montanha era muito mais desafiadora do que esperava. Temperaturas abaixo da faixa de vinte graus negativos na madrugada, desnível de mais de quatro mil metros numa única jornada, peso da mochila acima de vinte quilos, falta de experiência em escalada no gelo, estar sozinho, não saber a rota, não me aclimatar, não estar totalmente seguro quanto ao nível de proteção térmica das minhas roupas – estaria exposto por muitas horas a uma temperatura extrema, e qual a alimentação conseguiria ingerir nessas condições. Enfim, eu estava rodeado de questões para resolver comigo mesmo. Havia decidido por aquilo, então não poderia reclamar.
Convencido de que a situação merecia mais atenção, tratei de me aproximar dos novos amigos e tirar as dúvidas que ainda pairavam sobre minha mente. Jantei sozinho, mas logo me convidaram para uma rodada de cerveja. E daí, partimos noite adentro. Vladislav também trabalhava no hotel como barman e nos servia várias doses de bebidas especialmente preparadas para a ocasião. E conforme bebíamos, mais nos divertíamos. Eu contava histórias do nosso país e eles compartilhavam suas experiências na Rússia, vivendo sob a clandestinidade. A Ucrânia sofria com os ataques da grande pátria naquele momento, e não poderiam regressar sob pena de irem direto para o serviço militar, ou melhor, para a zona de conflito. Na Rússia, também não podiam assumir sua condição, pois seriam obrigados a regularizar sua documentação com o risco de também seguir para o serviço militar. Estavam vivendo sob a pressão de dois regimes rigorosos, mas naquela noite todos trocavam experiências e perspectivas com alegria.
Desde novembro de 2013 vem ocorrendo uma onda de protestos na Ucrânia. Esses protestos deram-se inicialmente contra o governo do ex-presidente Viktor Yanukovych, principalmente na Maidan (Praça da Independência), no centro da capital Kiev. O motivo principal seria o fato de Yanukovych ter decidido na época pela não assinatura do acordo político-comercial de cooperação com a União Europeia, pretendendo reforçar as relações subalternas de seu país com a Rússia. Prédios públicos foram ocupados, barricadas foram erguidas e dezenas de mortes ocorreram desde o início dos conflitos, evidenciando a violência dos protestos. Em fevereiro de 2015, o então presidente foi destituído. Há ainda uma série de fatores que tem levado as pessoas às ruas, como a crise econômica, a desigualdade social, a corrupção, o sucateamento dos serviços sociais, a pobreza e o desemprego, além da forte repressão policial contra os manifestantes. A situação na Ucrânia ainda está em aberto, em primeiro lugar graças ao fato de ser a segunda maior economia da antiga União Soviética, depois da Rússia, e também por passarem em seu território gasodutos que fornecem o combustível à Europa, transformando assim os protestos em foco de interesse de potências ocidentais e da Rússia.
No dia seguinte, tinha o sábado livre para organizar todos os equipamentos, fazer uma caminhada na região sem grandes esforços e dormir cedo para no outro dia seguir minha rota rumo ao Elbrus (em russo: Эльбрус). Logo, Artyom e Vladislav fizeram companhia para uma atividade ao ar livre até onde poderíamos avistar o cume da montanha mais de perto, passando antes por uma queda d’água geladíssima, e assim ter um contato mais íntimo com a natureza selvagem. Foi um dia lindo, sol a pino, altitude se mostrando, chegamos apenas a pouco mais de três mil metros, suficientes para eu transpirar um pouco, adaptar-me ao clima e ver a beleza cenográfica da região. Senti-me em casa, com o altar branco diante dos meus olhos. Foi meu primeiro contato, um dia antes da subida vertiginosa para o alto daquele nevado, meu primeiro olhar mais carinhoso, minha primeira piscada de olho para que pudesse sintonizar uma onda de energia positiva. Queria nutrir os sentimentos mais sublimes naquele lapso de tempo, pois domingo seria um dia duro, como sempre é quando se quer conquistar algo diferente. Num dia você recebe mais do que precisa, e noutro menos.
Nessa lei da compensação, sabia que estaria sujeito a pagar mais pelo meu objetivo, não sabia quanto, mas sobrava disposição para conferir de perto. No início da noite, já com tudo organizado, sentia-me feliz porque tinha feito novos amigos, conhecido uma região que não constava nos meus planos e de quebra tinha visto o Elbrus lindo e imponente, destacado no horizonte. Pude ver ainda a crista principal da parte ocidental da Cordilheira do Cáucaso, e imaginei o que havia por detrás, a Geórgia, o mar Negro e um infinito de mundo a ser explorado...
Entre sonhos e ansiedade, acordei algumas vezes no meio da noite. Já era chegada a hora. Café da manhã tomado, segui caminhando vagarosamente de Terskol a Azao, pouco mais de dois quilômetros pelo asfalto, saindo de 2130 metros de altitude. Apenas um aquecimento perto do que viria pela frente. Em Azao (2180 msnm) localiza-se a base do sistema de teleférico. Segui diretamente para a rampa em rocha e coloquei meu ritmo gradualmente, para me adaptar ao peso e à temperatura, que de um calor tímido foi se nivelando para uma leve garoa, para depois transformar-se numa pequena nevasca. Assim foram minhas primeiras horas de ascensão, em ritmo forte, o que tomou-me três horas até a primeira parada para alimentação, em frente a um café onde alojei-me da nevasca. Fiquei ali por mais de uma hora me recuperando, já a 3470 msnm, ao lado da estação de serviço de transporte por cabos Mir. A subida estava pesada e meu organismo reagia mal. Reequipei-me com a bota plástica, crampons, roupas impermeáveis e segui rumo ao ponto de parada obrigatório, o último abrigo antes do cume, a 4100 msnm, onde deixaria meus pertences sem utilidade, para então realizar o ataque em horário mais adequado. Lá poderia me alimentar melhor e descansar enquanto esperava. Gastei ao todo seis horas até o refúgio Prijut 11, nada mais que um container de metal. Esse alojamento, além de carregar meu número da sorte, foi cenário de uma passagem histórica. Os alemães ocuparam brevemente a montanha durante a Segunda Guerra Mundial com dez mil soldados montanheses. Uma história, possivelmente apócrifa, conta que um piloto soviético bombardeou a cabana principal (Prijut 11), enquanto estava ocupada. Mais tarde, foi-lhe oferecida uma medalha por não ter atingido a cabana, mas sim o estoque de combustível, deixando-a intacta para as gerações futuras. Bem na dita cabana, como chamavam os militares soviéticos, fui recebido por um ser autóctone, um senhor muito simpático e barrigudo chamado Ivan, integrado àquele ambiente e sem proferir qualquer palavra em outro idioma que não fosse o russo. Logo fui colocando minhas coisas numa cama de madeira, troquei-me para aquecer o corpo, tomei vários copos de chá para aliviar meus enjoos e comi alguma coisa salgada para a pressão. Fui direto para a cama depois de alguns minutos e dormi pesadamente por duas horas.
Eram vinte e uma horas passadas daquele longo dia que havia começado cedo em Terskol, agora uma diminuta cidade baixa. Estava a mais de quatro mil metros de altitude, havia dormido um par de horas e sentia fome. Logo preparei minha comida instantânea acompanhada de uma lata de sardinhas. Sorvi mais daquele chá abençoado e então me senti totalmente disposto. Nenhum efeito da altitude, apenas um cansaço normal da escalada, em grande parte feita com neve fofa, carregando uma mochila pesada e sob o frio da nevasca, que me deixara cabisbaixo quando da chegada ao refúgio. Conheci meus vizinhos de quarto no abrigo, dois bielorrussos simpáticos, Sergey e Anastasia, mas apenas a menina falava um inglês simples e monossilábico. Foi o suficiente para iniciar uma conversa interessante sobre montanhas, viagens e meu objetivo ali. Os dois e o cuidador do Prijut 11 espantaram-se com a minha subida e o que ainda viria naquela noite. Mas isso se explica porque a maioria daqueles que passam pelo Elbrus estão habituados ao regime de aclimatação tradicional, que leva de quatro a sete dias.
Despedi-me de todos, porque já estavam preparando suas camas. Tentei dormir mais algumas horas, mas havia entrado em estado de alerta geral, parte pela ansiedade natural, parte porque havia decidido seguir logo às duas da madrugada. Restava pouco tempo e estava difícil relaxar para um último descanso. Deitei na cama de madeira, entrei no meu saco de dormir, aqueci-me e as horas passaram lentas enquanto lia "A Sonata a Kreutzer" (Tolstói, 1889). Às duas horas e quarenta minutos daquela segunda-feira sai rumo à escuridão, sozinho, equipado, aguerrido, mas atento aos riscos de enregelamento e males da montanha. O caminho não era demarcado, mas havia um traçado fresco dos veículos, os snowcats, utilizados para ascender turistas que recorriam ao serviço.
Minha iluminação era limitada a pouco mais de cinquenta metros de raio, o que me ajudava apenas a não sair muito da rota que havia estabelecido. Sabia que um grupo formado por dez bielorrussos subiria ao cume naquele dia, baseado nas informações que recebi no abrigo. Fui subindo e ganhando ritmo, me aquecendo e tentando hidratar-me ao máximo com água morna de uma garrafa térmica preparada com zelo, única fonte de calor para a madrugada. Fui bem leve, mochila de ataque quase vazia, com comida e água, pois sabia que a temperatura poderia aumentar com o sol nascente e precisava de espaço para carregar meus pertences na volta. Fui muito agressivo na subida, pois sentia-me bem, nenhuma sensação desagradável até que comecei a avistar o grupo acima. Calculei uma hora de distância até eles.
Raios. Trovoadas. Tudo isso acontecendo atrás do maciço. Mais raios. Fiquei parado e observando. Estava situado na crista do penhasco chamado de Pastukhov Rocks, a 4700 msnm. Não havia nada na previsão do tempo sobre chuva ou tempestade elétrica. Pensei no que fazer. Olhei o maciço calculando a rota e imaginei onde tudo se passava. Dei uma desculpa para minhas vacilações e continuei.
Desde o abrigo levei pouco menos de seis horas para alcança-los, logo na faixa dos 5000 msnm. Neve fofa. Sem os crampons e piqueta não teria conseguido imprimir tal ritmo. Pouco antes de chegar ao grupo passei mal, senti choques no corpo e entrei em pânico, quase desisti, pois meses antes havia sofrido o mesmo sintoma em Riobamba no Equador ao tentar subir o vulcão Chimborazo (6268 msnm). Na ocasião cai desacordado depois de uma nevasca, que teimei em resistir com roupa não apropriada, porque era um trecho curto de ascensão até um abrigo a 4800 msnm, cumprido em apenas três horas correndo. Mas subindo o Elbrus, na situação que estava, chegando aos 5000 msnm e de novo sozinho, sem nenhuma possibilidade de resgate e numa encosta vertiginosa, não poderia vacilar. Tive meus momentos de conflito interno, refleti, fui além do limiar de segurança confesso, mas enfrentei o medo porque acreditava que grande parte daquilo era um trauma mal resolvido. Logo me comuniquei com um dos bielorrussos que falava pouco inglês, mas entendeu minha situação por completo. Pedi permissão para ir ao lado deles, até que me sentisse melhor. Não queria voltar. Fui escoltando os dez bielorrussos no final da fila por uma hora, quando de repente todos param, uns vomitando, outros cabisbaixos, e Nikita, o que falava inglês, se desculpando, pois voltariam. Disse que não poderia deixar seus amigos sozinhos naquela situação. Despedi-me e continuei em solitário novamente. Não! Atrás vieram três bielorrussos remanescentes do grupo que ainda sentiam-se confiantes.
Ascendemos mais uma hora até o colo (5325 msnm), localizado entre os cumes oeste (5642 msnm) e leste (5621 msnm). Nesse momento, depois de quase oito horas de ascensão desde o Prijut 11, senti o peso da montanha. Tinha acumulado até aquele momento duas horas de sono apenas. Antes, já havia realizado a ascensão desde o vale de Terskol até o abrigo, o que levou seis horas ao todo. Optei por subir sem aclimatação, em tiro único. Pouco alimentado, sentia o corpo desidratado. Tudo isso parecia ser o efeito da subida em ritmo acelerado, que ainda provocou enjoos contínuos. Meus pés já não tinham mais a sensibilidade de antes. De repente o temor. Ainda enfrentaria a parede no ataque final ao cume. Comecei a travar uma luta interna. A confiança estava abalada, tive que recorrer a recordações, apoios espirituais, frases e conselhos, meu mote esportivo – Tieni Duro! Neguei-me a recuar. Elaborei um plano do que faria daquele ponto em diante. Tirei a roupa mais quente, o calor já incomodava, minha boca estava ferida, lábios ressequidos. Sentia sono, uma fraqueza enorme, mas sabia que se partisse para cima, afastaria essas sensações naturalmente, ainda mais com a possibilidade de fazer cume. Um dos bielorrussos perguntou:
– Estamos no horário?
– Sim, temos uma hora e meia para chegar.
– Acho melhor descer.
– Bem, eu vou. Se quiserem, vamos juntos em fila indiana.
– Tudo bem. Vamos revezando.
Foi importante o diálogo, porque passei uma confiança que me foi devolvida na mesma medida. Seguimos rumo à parede, e começamos a abrir os degraus na neve virgem e fofa, mas com alguns trechos duros de gelo. Entramos num ritmo em que fosse possível manter uma distância segura entre os montanhistas. Os movimentos eram cadenciados, cada um dando o que podia. Eu ficava zonzo e às vezes parava para me recuperar. Num determinado momento, quando seguia na frente da fila, tropecei num dos crampons ao enganchar-me na barra da calça. Deslizei pelo glaciar montanha abaixo como um foguete sem freio rumo às rochas do centro do colo. Fiz vários movimentos até que de repente consegui travar a piqueta depois de perder cento e cinquenta metros de altitude. Foi um susto enorme, que para um corpo desgastado transformou os momentos finais da escalada num martírio. Olhei para cima. Os bielorrussos em silêncio! Alguns segundos depois, o único que falava inglês disse: “Pelo menos, agora você sabe para que serve a piqueta!!!” Rimos todos juntos. Eu ri para não chorar, porque teria que recuperar o passo e voltar à rota dos degraus. Um deles me olhou desconfiado, e começou uma conversa no seu idioma com os demais. Então Max, gaguejando em inglês, perguntou sobre minha experiência. Contei um pouco da minha história. Fui breve, pois todo esforço me custava alto, e rapidamente relatei a jornada desde a manhã de domingo. Estava atacando o cume com menos de vinte e quatro horas na montanha, praticamente sem dormir.
Seus olhos arregalaram-se de espanto. Eles estavam ali há seis dias entre aclimatação e ataque. Seguimos adiante. Faltando menos de vinte metros de altura para o cume, quando meu altímetro marcava exatos 5630 msnm, recebemos avisos de um grupo de socorristas com seus apitos. Ao mesmo tempo vimos de longe um helicóptero sobrevoar a região. Eu dei de ombros, até porque não havia qualquer problema com horários, sequer havia um registro oficial de acesso à montanha. Eu estava por conta própria e estava visualmente chegando ao cume. Meus pensamentos começaram a ocupar-se com o que faria lá em cima, com a paisagem com a qual me depararia, com as emoções fortes que vinham ao pensar nas pessoas queridas da minha vida, com aquela conquista, com a minha debilidade, com certo medo, o respeito pelo altar que estava adentrando. Enfim, uma profusão de sentimentos à flor da pele. A emoção superando a razão. Um diálogo rápido e confuso começou:
– Vamos descer, eles estão chamando.
– Quem?
– A equipe de resgate.
– O que foi?
– Pediram para descer.
– Por quê?
– Não sabemos.
– Vou seguir.
Silêncio. Realidade onírica!
Pedi que não parassem, pois estávamos no cume, nada poderia mudar aquilo. Seguimos mais alguns minutos e nos deparamos com uma cena de horror. No momento, era impossível entender o que havia acontecido, mas um rapaz estava morto e sua companheira estava ali, desolada. Não fizemos nada, apenas olhamos, foi o tempo exato entre nossa chegada e os silvos da equipe de resgate, que foi acionada mais cedo pela namorada do rapaz, que morrera pouco mais de duas horas antes da nossa chegada. O helicóptero se aproximou, fomos banidos do cume, já que a situação era tensa.
Mais tarde, descobri num site local que o casal havia feito a ascensão pela face norte do Elbrus, saindo de Mineralnye Vody. Momentos antes, ao conquistarem o cume, enquanto a menina tirava uma foto do seu namorado com os bastões de caminhada erguidos, um raio o atingiu fatalmente. Eu fiquei perplexo pela notícia, lida depois de viver todo aquele drama de perto e testemunhar o casal por míseros minutos. Os raios... malditos!
O Elbrus coleciona uma lista importante de acidentes fatais. Muitos o consideram uma montanha fácil, mas lembremos da ucraniana Maria Khitrikova, tida como a “Mulher Maravilha” do montanhismo de altitude, que precocemente aos vinte e um anos de idade, em março de 2012, foi encontrada a 4700 msnm à esquerda de Pastukhov Rocks, provavelmente depois de deslizar na geleira. Em maio de 2006 foram sete mortes de uma só vez, quando um grupo, ao se perder numa altura de 5300 msnm, resolveu abrigar-se na neve e morreu congelado após a temperatura cair para menos de cinquenta graus negativos. Voltando mais ao passado, durante os primeiros anos da União Soviética, o alpinismo tornou-se um esporte popular, e houve um tremendo tráfego de pessoas no Elbrus. No inverno de 1936, um grupo inexperiente de membros da União da Juventude Comunista6 (em russo: Комсомо́л) tentou escalar a montanha, e terminou por sofrer diversas baixas quando escorregaram no gelo e caíram para a morte.
Realidade onírica ainda presente. Desci débil, fraco e ao chegar novamente no colo fiquei quase uma hora parado buscando forças para retomar o caminho com destino ao Prijut 11. Mas também fiquei ali pensando em tudo. Levei pouco mais de duas horas até encontrar o abrigo. Estava atônito. Não entendia o significado daquela história recém-vivida. Fresca demais e latente. Arrumei minhas coisas, ainda cambaleando, mudo e perplexo, sentindo-me um farrapo, desci o que restou da montanha até Azao, depois Terskol. No vale chorei, não compreendia nada. As noites seguintes foram de distúrbio. Pesadelos, choro contido, medo, alucinações, sombras ao redor no quarto e uma tristeza.
Estamos sujeitos às surpresas da vida. Nem sempre conseguimos realizar nossos sonhos dentro de um script. Isso não significa que o sonho não foi alcançado, muito menos que tenha menor valor. Temos que saber lidar com os obstáculos, e contornar a situação sempre lembrando que a maior dádiva é estar vivo. A vida, em si, já é um sonho realizado, um milagre coexistindo com as agruras do mundo que habitamos. O sentido de tudo está oculto na maioria das vezes, sujeito a interpretações, e o que pode ser benéfico para um, pode ser maléfico para outro. Poucas são as unanimidades, mas uma delas é expressa pela vontade comum da busca pela felicidade. Mas isso também pode ser visto como relativo ao senso de cada indivíduo. Porém, o exercício da busca é comum a todos, sem o qual não se conquista nada. Deixar de lutar é uma forma de ser infeliz.
Segui meus passos para a rota Transiberiana com pensamentos pesados, confusos, cercados de mistério. Para livrar-me daquilo deveria mergulhar numa nova experiência. A Sibéria. Na literatura russa ir para a Sibéria é ir para dentro, para a pureza da brancura da neve. Não por acaso a maioria dos grandes romances termina na Sibéria. Na neve que é como o papel branco de uma nova página a ser escrita.
E o que dizer da linguagem, da comunicação, para mim, o maior obstáculo encontrado na Rússia, maior ainda que a montanha que escalei? Foram momentos de introspecção, vergonha, ansiedade e medo. Quase perdi o avião para Nalchik ao tomar o metrô no sentido contrário ao do aeroporto em Moscou. Acabei pegando o último vagão para o terminal de embarque a três minutos da sua partida. Fui salvo pela sorte de encontrar em meio a milhares de pessoas um russo que falava inglês, em pleno horário de pico na sexta cidade mais populosa do mundo. Usei alguns critérios, é claro, e acertei na mosca. Mas, e essa linguagem que independe de origem? Àquela que todos estamos sujeitos. Essa língua pra mim foi a morte, ponto misterioso de onde viemos e para onde voltaremos. Ao fim e ao cabo, parti da não-comunicação para o pleno entendimento. E talvez essa tenha sido a viagem dentro da minha viagem.
Bolshoye spasibo! Do svidaniya!














1 Mujique era a denominação dada ao camponês russo, normalmente antes de o país adotar o regime socialista em 1917. Ela indica um certo grau de pobreza, uma vez que a maioria do mujiques eram servos (chamados de almas na Rússia) antes das reformas agrícolas de 1861. Depois desse ano, os servos receberam determinadas áreas para trabalhar a terra e se tornaram camponeses teoricamente livres, mas que em muitos casos ainda trabalhavam em um regime de servidão, muito parecido com o que aconteceu no Brasil logo após a abolição da escravatura. Esses camponeses livres foram então conhecidos até 1917 como mujiques. Na literatura os mujiques foram retratados de diversas formas. No romance Crime e Castigo (1866) de Dostoiévski aparecem várias alusões aos mujiques como personagens de uma condição social inferior.

2 Os Sete Cumes são as montanhas mais altas de cada continente, onde a Antártida entra na lista e a América se encontra separada em América do Norte e América do Sul. Os Sete Cumes são compostos assim: Ásia: Everest (8848 msnm) – América do Sul: Aconcágua (6962 msnm) – América do Norte: Monte McKinley (6198 msnm) – África: Kilimanjaro (5893 msnm) – Europa: Monte Elbrus (5642 msnm) – Antártida: Maciço Vinson (4892 msnm) – Oceania: Pirâmide Carstensz ou Puncak Jaya (4884 msnm).

3 Metros sobre o nível médio do mar, por vezes denominado simplesmente metros de altura.

4 Em topografia e orografia, a proeminência topográfica, também denominada fator primário, altura relativa ou altura autônoma, é um conceito usado para a classificação de colinas e montanhas. Define-se por desnível mínimo para descer desde o cume de uma colina ou montanha até chegar a outra qualquer, desde que seja mais alta, isto é, tenha altitude superior. Quanto maior proeminência topográfica tem uma montanha, mais destaca-se entre as que a rodeiam, independentemente da sua altitude. A proeminência, tal como a altitude, é um valor absoluto para uma montanha, já que depende unicamente do ponto mais baixo que a une com qualquer outro cume mais alto. Com exceção do Monte Everest, toda montanha é superada por outra de maior altura. Isto significa dizer que para qualquer outro monte tem de existir algum lugar tal que para passar desse a outro mais alto, deve-se perder a menor altitude possível. Esta simples observação, que já foi estudada pelo físico escocês James Clerk Maxwell, levou-o a pensar na existência de uma relação inequívoca entre cada um dos cumes da superfície terrestre e um ponto de sela. O aspecto mais complexo desta análise consiste em determinar qual é o trajeto de desnível mínimo que permita relacionar as duas montanhas.

5 Seven Summits Club é um clube internacional de alpinismo voltado para as expedições mais extremas do montanhismo, por exemplo: Sete Cumes; Três Polos; os Catorze 8000 m (sic), ou seja, a conquista das catorze montanhas acima dos oito mil metros de altitude; e o Snow Leopard, que significa a conquista de todos os cinco cumes acima de 7000 msnm no território da antiga União Soviética. O Snow Leopard (em russo: барс Снежный) foi um prêmio de montanhismo soviético dado aos montanhistas mais experientes. Ele ainda é reconhecido na Comunidade dos Estados Independentes ou países que formavam a antiga União Soviética.

6 A Integração de Jovens Comunistas Leninista (em russo: Всесоюзный Ленинский Коммунисти́ческий Сою́з Молодёжи - ВЛКСМ), geralmente conhecida como Komsomol (em russo: Комсомо́л, uma abreviação silábica do russo Kommunisticheskii Soyuz Molodyozhi), foi a divisão da juventude do Partido Comunista da União Soviética e um partido político da União Soviética representado no Soviete Supremo da União Soviética. A Komsomol em sua forma mais antiga foi criada em centros urbanos em 1918. Durante os primeiros anos era uma organização russa, conhecida como a Confedereção Comunista de Jovens Russos, ou RКSМ. Durante 1922, com a unificação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), foi reformada em uma agência de integração, a divisão de jovens da Integração do Partido Comunista.

Publicado originalmente na revista Mountain Voices.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

O Dilema da Bifurcação

Fui acometido por essa loucura de caminhar longas distâncias. Isso começou cedo. Não me lembro porque. Sempre buscava realizar grandes jornadas. Queria alcançar o final da praia, o alto da montanha, atravessar planícies, passar a noite na floresta explorando. Sinto um impulso, um chamado. Disso eu posso falar. Do sabor que essas experiências me trazem. Sabor de novidade. Estou sempre conectado com o astral, e dele sopram sinais, com os quais me integro ao estado de inspiração contínuo.

Meus olhos são como radares, buscando o sentido das manifestações naturais. Sou um andarilho, nômade e ermitão. Não me contento na fixação, na ostentação... Minhas vestes são a mata. Minha alegria reside na chuva caindo, no vento que bate na face. Procuro meus ancestrais no pensamento, sigo suas tradições. Me lanço no mundo, converso com os animais, com as árvores. Vejo xamãs passando nas trilhas, colhendo as folhas, a raiz, para o feitio do chá...

domingo, 23 de agosto de 2015

Performance de Livre Pensamento "A Transmantiqueira em Solitário de Pablo Bucciarelli"

Teaser da Performance de Livre Pensamento "A Transmantiqueira em Solitário de Pablo Bucciarelli"... evento criado a partir da travessia solo do montanhista de velocidade pela Serra da Mantiqueira em fevereiro de 2015, com percurso de 400 km realizado em 6 dias, 5 horas e 20 minutos e apenas 18 horas de sono. Na apresentação, Pablo Bucciarelli traz questões sensíveis sobre a alma, a natureza, a sociedade ... A performance tem 1 hora e 15 minutos de duração em forma de livre pensamento, sem roteiro. O montanhista expressa criativamente, entre as imagens em full HD, suas reflexões deixando levar-se pela inspiração, pela intuição, como se estivesse revivendo a realidade da travessia. É real, é chocante! Ele faz um convite, uma provocação ... o da conexão entre o homem e a natureza na busca pelo autoconhecimento.

A Caravana Transmantiqueira está viajando por todo o Brasil com apresentações em salas de cinema, deixando o público emocionado com as questões levantadas durante a performance.

Entre nessa viagem psicodélica ao lado do montanhista de velocidade Pablo Bucciarelli.

Trilha sonora: "A moment rather than a place" de cellardoor

Fotografia: André Dib

Vídeos: Cassandra Cury, Samuel Oscar - Drone da Montanha, Luiz Milan Lasanha e Márcio Picinato

Colaboração: Elias Luiz - Portal Extremos - http://www.extremos.com.br

Edição: Cassandra Cury

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

A Transmantiqueira em solitário com Pablo Bucciarelli

"Meus pensamentos se voltaram para a Serra da Mantiqueira desde o primeiro dia em que a vi pela primeira vez. Embora de longe e de passagem, de carro na Dutra, foi amor à primeira vista. Faz tempo que isso ocorreu. Caminhar pela Mantiqueira é como entrar num filme, numa viagem transcendental sem começo, meio e fim. Eu vivo essa experiência todas as vezes que subo suas montanhas. Meu coração mergulha profundamente em pensamentos sublimes sobre sua natureza, as pessoas que ali criam suas famílias, as lindas flores que colorem os caminhos. Cada montanha tem personalidade própria, uma vida em si! Na Mantiqueira vou vivendo cada momento com magia. Vou caminhando e sentindo o que a terra tem pra oferecer, sem lutar contra ela. Vou indo aos poucos, observando seus aspectos originais. Noto cada detalhe, suas cores, sua textura, a umidade transpirando na vegetação e o aroma presente no ar." Pablo Bucciarelli